Em meio a uma pandemia inédita na história recente da humanidade, todos estão sentindo em algum grau as medidas para contenção do doença. Mas, afinal, todas as pessoas possuem a mesma capacidade de transmissão?
No caso do Covid-19, tudo é muito novo e vários estudos estão sendo realizados para descobrir mais sobre a doença. Mas, até onde se sabe, a resposta é não. As pessoas possuem diferentes capacidades de transmissão de vírus. Ou seja, umas transmitem com mais facilidade do que outras.
Há o que a ciência chama de superdisseminadores, aqueles que infectam um número maior de pessoas do que a média geral. Em entrevista ao The New York Times, o médico Jon Zelner, epidemiologista na Universidade de Michigan (Estados Unidos), diz que conhecer essas pessoas é fundamental para conter a transmissão de vírus, principalmente em tempos de pandemia. Da mesma forma, rastrear toda a rede de contatos de um infectado que não é um superdisseminador pode ser um trabalho em vão. "A parte complicada é que não sabemos necessariamente quem são essas pessoas", comenta.
Segundo o médico, os principais fatores que fazem um superdisseminador são a genética e os hábitos sociais. Um sujeito com imunidade mais baixa e que, ao mesmo tempo, circula em lugares de grande aglomeração poderá ser um disseminador da doença com muito mais probabilidade do que se tivesse outros hábitos sociais. Trata-se, portanto, de uma conjunção desses dois fatores.
Além das questões genéticos e sociais, há uma terceira que também tem importância: a casualidade. O primeiro infectado por um vírus com grande poder de transmissão espalhará naturalmente a doença ainda que não seja geneticamente propenso.
"No caso do novo coronavírus, sabemos que muitos infectados não manifestam sintomas e isso é potencialmente perigoso em uma sociedade globalizada, que vivencia um enorme fluxo de pessoas e compartilhamentos de lugares comuns como, por exemplo, salas de embarque, shoppings centers, cinemas etc", explica o patologista-chefe do Lapac, Gerônimo Jr.
A história das doenças comprova o perigo dos assintomáticos. Em 1893, a cozinheira irlandesa Mary Mallon emigrou sozinha da Irlanda do Norte para os Estados Unidos e, muito provavelmente na viagem, contraiu febre tifóide. Chegou em Nova Iorque e logo deu início à sua rotina de trabalho, uma vez que não apresentava sintomas. Por fim, estima-se que Mallon tenha contaminada mais de 50 pessoas.
Outro exemplo foi a epidemia de MERS-CoV na Coréia do Sul, em 2005. Estima-se que aproximadamente 75% dos casos podem ter sido causados por três superdisseminadores que infectaram um número alto de contatos.
"Em uma pandemia como a que estamos vivendo, onde temos mais perguntas do que respostas, é preciso muita precaução. Mas sabemos com muita precisão que o novo coronavírus se manifesta de maneira assintomática, o que aumenta o risco dos superdisseminadores. São dados que reforçam a importância do isolamento social", comenta Gerônimo Jr.